07/01/2014

O regresso ao Canil Municipal de Lisboa

Ou Casa dos Animais de Lisboa, como eu sonhei um dia. Mas é, apesar das melhorias, um Canil Municipal. O de Lisboa.
Não tinha voltado àquele lugar, desde o dia em que me demiti das funções de Provedora Municipal dos Animais de Lisboa, numa afamada carta aberta ao Edil lisboeta (precedida de várias tentativas de comunicação verbal da minha decisão, sem qualquer espécie de resposta). Não por falta de interesse, de modo nenhum. Mas porque temos de saber escolher as nossas lutas dentro das forças que temos, a cada momento. O desgaste emocional de trabalhar com patudos no Canil de Lisboa, tal qual ele era, foi muito grande. E dias depois, a minha vida era dominada pelo "Big C".
Adiei algumas vezes a visita. Tinha medo de encontrar o Pintas, que ainda não tivesse família. Ou a Icy. Ou o Tobias. Ou a Alicinha. Ou o Kiko. Tinha medo que o gatil continuasse uma prisão. Tinha receio da impotência que ia sentir ao voltar àquele lugar sem a capacidade de abrir uma boxe para tirar uma foto, que fosse. Os meus medos não tinham razão de ser. Os meus receios, esses, sim. Toda a razão de ser.
O Pintas, a Icy, o Tobias, a Alicinha e o Kiko já foram todos adotados. O Gatil novo já está acabado, e os gatolas têm espaço para esticar as pernas e correr e trepar. O Canil não está com lotação esgotada, nem perto. A Dra. Marta Videira, que assumiu funções como Técnica Veterinária Responsável pela CAL, continua a ser a pessoa maravilhosa que eu conheci e tanto quis e lutei para que estivesse à frente daquele sítio. Atualmente, os gatolas já são todos esterilizados e vacinados - o que não me apaga da memória ou do coração os 14 meninos que morreram de calicivírus, mas a implementação destas regras é fundamental e a vida tem de seguir de olhos no futuro. Os funcionários da CAL, que tinham fama de assassinos carniceiros, são pessoas dedicadas e meigas, como sempre disse que são - e alegra-me muito ver isso reconhecido por demais pessoas. A Ala Fechada do Canil foi deitada abaixo! Finalmente! Está em obras de remodelação.
E então?
Os meus receios?
No Verão de 2013, a acompanhar a minha nomeação como Provedora, o Presidente da CML emitiu um despacho que permitia a toda e qualquer pessoa visitar sem restrições o Canil, fotografar e/ou filmar os patudos ali abrigados. Agora, com o Manual de Procedimentos em vigor, é preciso autorização prévia. A acompanhar-me neste regresso, estava a minha filha Dri. E o meu amigo Jaime, jornalista da Sábado e uma fotografa da revista, em preparação de um perfil meu. Não podemos senão visitar, devidamente acompanhados, o espaço. A Dra. Marta Videira tentou obter tal autorização por telemóvel. E chegou às falas com o seu superior (imagino que o Diretor da CAL), mas obviamente que a autorização ficou pelo caminho. Sabem lá eles, na "chefia", o que é que esta louca ia dizer da CAL à imprensa. Ia dizer não. Vou dizer. Já disse. Depois leem. A divulgação dos animais abrigados para adoção está a ser trabalhada. Até lá, raspas. Porque o Canil continua a ser ermo, sem acesso por transportes públicos. É preciso querer muito adotar um patudo para adotar um patudo no Canil de Lisboa. As fotos que publico, foram tiradas mesmo à entrada, com a Ritinha e o Pinguim, que andam à solta.
Depois, e acreditando 200% na palavra da Dra. Marta Videira, que me garantiu que não estão a ser praticadas eutanásias em animais supranumerários, há uma promessa eleitoral por cumprir, Sr. Edil: a declaração por Regulamento Municipal da inexistência de abates na CAL (a não ser por doença e sofrimento do patudo, uma eutanásia, não abates). Constava do programa eleitoral do PS. E já vi demais para me fiar na Virgem. Ainda que creio, e muitíssimo, na Dra. Marta Videira.

Talvez seja verdade que um Canil não possa ser uma Casa dos Animais. Mas por pura falta de vontade de quem manda, a chamada "decisão política". O Gatil não tem luz natural, as boxes estão despidas de brinquedos, brincadeiras para os miúdos treparem como gostam, é frio e cinzento, são precisas caminhas e "equipamento de enriquecimento ambiental" (vulgos brinquedos), que me diziam que faria parte integrante do Gatil novo. Levei mantinhas coloridas e fofinhas para a miudagem, mas vou recolher camas e casas de banho fechadas. E brinquedos, muitos brinquedos.
Levei biscoitos e sticks de roer, para os patudos-cães. Dei à boca, entre as grades. Há naqueles olhos tristeza profunda. O cinzento do dia só desajudava. O deserto de pessoas, voluntários, não era consolo algum. Era domingo, 11h30, caramba!
Fui muito bem recebida por estava (obrigada Nuno). Adivinho os "receios" dos que não estavam. Não preciso de fotografias. Mas eles precisam muito. Alguém se apaixone pela Ritinha, 6/7 anos, arraçada de galgo, por favor! Ou pelo Pinguim, pequenito de 1 ano, um doce de meiguinho que é! Ou por um dos gatolinhas crescidos aninhados uns nos outros, que já não são bebés mas são adoráveis. Vão busca-los e deem-lhes uma família, por favor.
Volto lá, garanto, regularmente. Aquilo é melhor vida que a rua. Mas não é vida para ninguém.


O Pinguim e a Ritinha vieram à porta receber-nos...
 
 

O Pinguim, pretolas de peúgas cor-de-mel, um ano de idade, um bem disposto. E a Ritinha à espera de biscoitos.
 
 

Ritinha e os sticks de roer
 
 

(para dentro: "Ritinha, levava-te comigo, se pudesse...")
 
 

A Ritinha, 6/7 anos de cadelinha, arraçada de Galgo, com marcas de vida dura no pelo e no corpo. Linda de olhos doces.

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